A Defesa Caro-Kann é uma abertura de xadrez caracterizada pelos movimentos:
1. e4 c6
Sendo a continuação mais usual (mostrada no diagrama acima) é
2.d4 d5
Seguida de 3.Nc3, 3.Nd2, 3.exd5, ou 3.e5 (Variante Avançada). A Caro-Kann, como a Defesa Siciliaa e a Defesa Francesa é classificada como uma "abertura semi-aberta", porém ela é teoricamente mais sólida e menos dinâmica que essas duas. Em geral ela leva a bons finais para as pretas que têm uma melhor estrutura de peões.
Ela leva este nome em homenagem o enxadrista britânico Horatio Caro e o austríaco Marcus Kann que analisaram a abertura em 1886.
Variante Clássica |
O caminho mais comum para se lidar com a Caro-kann, a Variante Clássica, caracteriza-se por:
1.e4 c6
2.d4 d5
3.Nc3 (ou 3.Nd2) dxe4
4.Nxe4 Bf5
5.Ng3 Bg6 (ver tabuleiro)
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Esta linha foi considerada por muito tempo a melhor linha de jogo para ambos os lados na Caro-Kann. Normalmente as brancas escolhem continuar:
6.h4 h6
7.Nf3 Nd7
8.h5 Bh7
9.Bd3 Bxd3
10.Qxd3 (ver tabuleiro)
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Posição após 10.Qxd3 |
Ainda que o peão branco na h5 pareça pronto para atacar, ele pode ser uma real fraqueza num final de peões.
Boa parte da reputação da Caro-Kann como uma defesa sólida provém desta variante que é muito difícil de se lidar. As pretas fazem muitos poucos compromissos em sua estrutura de peões, e joga um eventual c5 para atacar a casa d4. As pretas ainda têm a oportunidade de rocar longo ou curto, ou ainda deixar seu rei no centro. Devendo o jogo chegar a um final, as pretas podem se dar por satisfeitas com sua sólida estrutura de peões e uma maioria de peões no flanco do rei.
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Variante Smyslov |
Outra sólida linha posicional, a esta variação segue-se os movimentos:
1.e4 c6
2.d4 d5
3.Nc3 dxe4
4.Nxe4 Nd7
Nomeada em homenagem ao sétimo campeão do mundo Vasily Smyslov, no xadrez moderno esta abertura vem sendo jogada por Anatoly Karpov, que usou dúzias de vezes em jogos de alto nível. Esta linha é parecida com a variante clássica, exceto que as pretas têm mais liberdade desenvolvendo o bispo e não são forçadas a colocá-lo na casa g6. Como quer que seja esta liberdade vem com o preço de se dar liberdade também às brancas, que podem ganhar espaço no centro sendo que elas freqüentemente jogam o agressivo 5.Cg5 para imediatamente causar alguns problemas para as pretas. O famoso último jogo do rematch entre Deep Blue e Garry Kasparov, quando Kasparov errou e perdeu foi jogado nesta mesma linha.
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Variante Bronstein-Larsen |
Uma continuação incomum que se segue:
1.e4 c6
2.d4 d5
3.Nc3 dxe4
4.Nxe4 Nf6!?
5.Nxf6 gxf6 (5...exf6 é possível mas não mais a favor)
Levando a uma posição muitíssimo pouco clara, as pretas voluntariamente optam por ter uma formação de peões inferior no flanco do rei e têm necessidade de rocar para o lado da dama. Porém as pretas também obtêm alguma compensação na forma de abrir a coluna g para as torres levando à um jogo ativo, pouco usual na Caro-Kann. Esta linha é geralmente considerada fraca, mas Bent Larsen a empregou com algum sucesso durante os anos 70.
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Variante do Avanço |
Nesta variação se joga:
1.e4 c6
2.d4 d5
3.e5 Bf5
Avançando o peão central e5. Ela ganhou popularidade ainda que tenha sido considerada fraca anteriormente. Leva à uma posição semelhante às derivadas da defesa francesa, mas sem o bispo mau de casas brancas. Esta linha foi revitalizada por linhas agressivas como o Ataque Bayonet (4.Nc3 e6 5.g4) ou linhas menos ambiciosas popularizadas pelo GM inglês Nigel Short e o GM americano Gata Kamsky (4.Nf3 e6 5.Be2 c5 6.Be3) e regularmente aparece em jogos de alto nível.
O movimento preto 3. . .c5!? é também uma alternativa importante; em comparação à defesa francesa as pretas economizam o tempo normalmente gasto com ... e6 , por outro lado, as brancas só podem explorar esta posição enfraquecendo sua própria formação de peões jogado 4. dxc5, sendo que as pretas têm boas chances de recuperar o peão.
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Variante das trocas |
Na variante das trocas se joga
1.e4 c6
2.d4 d5
3.exd5 cxd5.
O Ataque Panov-Botvinnik começa depois que as brancas jogam 4.c4. Este sistema freqüentemente leva à típicas posições com um peão da dama isolado, porém com as brancas com um bom desenvolvimento, e boas chances de ataque até que o peão isolado não é muito problema.
A real Variante das trocas começa com 4.Bd3 e não 4.c4, exemplo, 4. . .Nc6 5.c3 Nf6 6.Bf4 Bg4 7.Qb3. As brancas assim não conseguem muita vantagem em um jogo de nível alto, embora esta linha é bastante eficiente em níveis mais baixo.
Variante dos dois Cavalos: 1.e4 c6 2.Nf3 d5 3.Nc3, como jogou Bobby Fischer em sua juventude.
Variante Fantasia ou de Tartakower: 1.e4 c6 2.d4 d5 3.f3, que lembra em alguma coisa o Gambito Blackmar-Diemer. 3...e6 é provavelmente a resposta mais sólida.
Variante Gurgenidze: 1.e4 c6 2.d4 d5 3.Nc3 g6--é por causa desta linha que alguns enxadristas acreditam que 3.Nd2 é mais eficiente(as brancas também podem jogar c3 do mesmo jeito), 3...g6 também serviria de resposta à este lance.
Note que as linhas da Caro-Kann ou linhas semelhantes podem ser alcançadas pela transposição dos movimentos da abertura inglesa, como depois de 1.c4 c6 2.e4 d5.
Abaixo um jogo recente ilustrando as chances brancas de atacar quando os jogadores fazem roque para o lado oposto na Variante Clássica:
Lev Milman-Joseph Fang Aberto de Foxwoods, 2005 1.e4 c6 2.d4 d5 3.Nc3 dxe4 4.Nxe4 Bf5 5.Ng3 Bg6 6.h4 h6 7.Nf3 Nd7 8.h5 Bh7 9.Bd3 Bxd3 10.Qxd3 e6 (10...Qc7 evitaria a seqüência das brancas que se seguiu no jogo) 11.Bf4 Bb4+ 12.c3 Be7 13.0-0-0 Ngf6 14.Kb1 0-0 15.Ne5 c5?! (15...Qa5 é mais usual e provavelmente mais forte) 16.Qf3 Qb6? (teria sido melhor 16...cxd4 17.Rxd4 Nex5 18.Bxe5 Qc8 19.Rhd1 Rd8 20.Ne4 com as brancas com uma pequena vantagem) 17.Nxd7 Nxd7 18.d5 exd5 19.Nf5! Bf6 20.Rxd5 Qe6 21.Bxh6 (21...gxh6 22.Rd6 Qe8 23.Rxf6 Nxf6 24.Qg3+ e mate na g7) Ne5 22.Qe4 Nc6 23.Qf3 Ne5? (23...gxh6 24.Rd6 Qe5 25.Nxh6+ Kg7 26.Nf5+ Kh7 com uma posição pouco clara) 24.Qe4 Nc6 25.Qg4! Qxd5 (25...Ne5 26.Rxe5 Qxe5 27.Bxg7 Bxg7 28.h6 e as brancas venceriam) 26.Bxg7 Qd3+ 27.Ka1 Ne5 28.Ne7+!! Kh7 29.Qg6+!! fxg6 30.hxg6+ Kxg7 31.Rh7# (As brancas estão com uma dama, uma torre e um bispo a menos!) Notas baseadas nas notas de Milman de Julho de 2005, no livro Chess Life, pp. 11-12.
A ECO tem dez códigos para a defesa Caro-Kann, de B10 à B19.
B10: 1.e4 c6
B11: 1.e4 c6 2.Nc3 d5 3.Nf3 Bg4 (Variante dos dois cavalos com 3...Bg4)
B12: 1.e4 c6 2.d4
B13: 1.e4 c6 2.d4 d5 3.exd5 cxd5 (Variante das Trocas)
B14: 1.e4 c6 2.d4 d5 3.exd5 cxd5 4.c4 Nf6 5.Nc3 e6 (Ataque Panov-Botvinnik)
B15: 1.e4 c6 2.d4 d5 3.Nc3
B16: 1.e4 c6 2.d4 d5 3.Nc3 dxe4 4.Nxe4 Nf6 5.Nxf6+ gxf6 (Variante Bronstein-Larsen)
B17: 1.e4 c6 2.d4 d5 3.Nc3 dxe4 4.Nxe4 Nd7 (Variante Smyslov)
B18: 1.e4 c6 2.d4 d5 3.Nc3 dxe4 4.Nxe4 Bf5 (Variante Clássica)
B19: 1.e4 c6 2.d4 d5 3.Nc3 dxe4 4.Nxe4 Bf5 5.Ng3 Bg6 6.h4 h6 7.Nf3 Nd7 (Variante Clássica)